sexta-feira, 3 de maio de 2019

Uma análise da década do Pistons nos drafts

Até quando acerta, o Pistons erra


No dia 03 de Novembro de 2008, o então General Manager do Detroit Pistons, Joe Dumars teve uma brilhante idéia (ok, provavelmente ele teve a idéia antes disso, mas eu gosto de acreditar que ele não pensou muito nisso, porque se tivesse pensado, não teria feito): "Que tal trocar o meu melhor jogador por um outro que não tem nada a ver com o que a gente joga aqui, é um contrato expirante e pode ir embora em 6 meses (fora a grana da renovação, caso desse certo), e que já passou do auge faz um tempo? Parece ótimo, deixa eu pegar meu V3 black e mandar um DDD pro Colorado agora mesmo!" E assim foi feito, o Pistons trocou Chauncey Billups por Allen Iverson; Dez anos depois, o time ainda não se recuperou desse dia. Me inspirando em minha saga preferida de todos os tempos (Star Wars) que marca os acontecimentos temporais ao redor de uma batalha (a batalha de Yavin, que destruiu a primeira estrela da morte), resolvi definir a história do Pistons marcada por esse evento: antes e depois da troca do Billups - ATB/DTB.

Tal qual na saga cinematográfica, a troca acabou servindo como uma ordem 66 para o time. Iverson não deu certo na equipe, virou free agent, foi embora e dois anos depois estava jogando na Turquia. Mas tudo bem, ao menos; O dinheiro que Billups e, consequentemente Iverson, preenchiam dentro do salary cap tinha ido embora, e agora o Pistons poderia buscar talentos na free agency! Ainda havia esperança!

Vai ficar tudo bem!


Aí Joe Dumars teve outra idéia. Era 2009, estávamos ainda nos acostumando com a velocidade com que as coisas aconteciam e esperar parecia cada vez mais um conceito alienígena. Obviamente nosso GM preferido resolveu não esperar a free agency de 2010 (Wade! LeBron! Bosh! - Engraçado como em 2010 essa leva de free agents provavelmente empolgava mais do que hoje, em retrospecto, pois outros nomes de destaque foram Joe Johnson, Rudy Gay e Carlos Boozer), afinal a vida é curta demais para esperar o próximo grande jogador que vai lhe rejeitar. Ao invés disso, Dumars resolveu pagar o PIB de uma pequena ilha na oceania por dois jovens jogadores, Charlie Villanueva e Ben Gordon (ou Ben Jordan, que era mais Ben, e menos Jordan).

Aliás, um parêntese rápido para esse dois contratos:

Os dois contratos que destruíram o futuro do Pistons por alguns anos, somados, valiam 90 milhões, divididos em 5y/55m, em Ben Gordon, 5y/35m para Villanueva. Hoje, o Pelicans paga mais, anualmente para o Solomon Hill do que o Pistons pagou para Gordon; Jon freaking Leuer assinou um contrato que o está pagando mais dinheiro, em menos tempo, do que o de Villanueva. Acho que talvez seja por isso que tanto Pistons quanto Pelicans não estejam brigando por nada na NBA, but still, são contratos que, hoje, seriam dados para role players sem tanto alarde, e que DESTRUÍRAM uma franquia. As coisas mudam.

Bom, seguindo, não demorou muito para o Pistons perceber que tinha feito uma belíssima burrada, mas já era tarde demais para se arrepender. Enquanto esperava cinco longos anos até que o Sr. Tempo corrigisse os seus erros, tal qual uma onda leva, na praia, aquele castelo de areia mal feito, a única alternativa que havia sobrado para Dumars e o Pistons era o draft. Alguns anos de boas escolhas e ninguém nem precisaria lembrar dos contratos que o time tinha dado pra dupla Gordon/Villanueva, tudo ficaria bem. Como tudo na vida, não só não ficou bem, como piorou.

Ah, o draft. Acredito que a grande maioria das três pessoas que vão ler esse texto (eu incluso) - ou seja, duas - devem conhecer a dinâmica do draft e como ele funciona, mas explicarei mesmo assim. Há muitos anos, a free agency não existia. O time tinha os direitos dos jogadores para sempre, e a única maneira de jogadores trocarem de time era via trocas. Como consequência toda a leverage possível estava do lado das equipes. Os jogadores, se quisessem participar da NBA, precisariam se sujeitar à seguinte situação: se inscrever no draft, esperar que algum time o quisesse e, depois disso, estar à mercê daquela franquia pelo resto de sua carreira profissional. Parece divertido! Isso mudou alguns anos depois, com a introdução da free agency e cada vez mais os jogadores tem liberdade, na medida do possível, até os dias de hoje.

Até hoje, o draft é a única porta de entrada para a NBA (ok, tecnicamente você pode entrar na NBA sem ser draftado, mas para isso você tem que ter estado apto a ser escolhido no draft em algum momento de sua vida; Se, digamos, o Pelicans liga aqui em casa e fala: 'Hum, então, estamos precisando aí de uns novos TALENTOS e por algum motivo sorteamos seu número aqui cola aí jogar com a gente vai ser maneiro' eu poderia ir, mas porque eu já atingi a idade máxima possível para participar do processo, 22 anos) para jovens jogadores. Como um evento importante, que irá mudar a vida de 60 jovens todo ano por, em média, uns 5 anos da vida desse jogador, é um evento extremamente bem pensado, que premia ruindade, sorte e é focado em transformar tudo em um show com bastante anunciantes para a televisão, rendendo o máximo de dinheiro possível. É a síntese do capitalismo!

O draft nada mais é do que um grande FUTEBOL DE RUA versão profissional. Todo ano vários jovens cheios de sonhos e perspectivas se inscrevem no draft, na ânsia de finalmente ganhar dinheiro pelos seus talentos, até descobrir que, pelo AZAR DE SER MUITO BOM vão ter a carreira destruída pelo Sacramento Kings. Os piores times da temporada anterior escolhem primeiro (não sem antes alguns serem definidos por um sorteio com BOLINHAS DE PING-PONG, pois é uma oportunidade a mais de fazer um show e conseguir vendê-lo para a televisão). No dia um grande evento é realizado e os times vão anunciando, um a um, suas escolhas - primeiro para o Woj, depois para o Adam Silver, cujo trabalho, nada mais é do que uma versão teatral e glamourizada do Sílvio Santos sorteando o ganhador do carro, no programa Roda a Roda daquela semana. Ele lê a escolha num palanque, os jogadores mostram seus ternos em rede nacional, dão um abraço em seus parentes e vão felizes da vida rumo à suas novas carreiras. Ou não tão felizes assim.

EMOÇÃO


Como toda atividade que envolva basquete profissional nos últimos anos, não é surpresa que o Pistons seja ruim nesse processo todo. Tudo bem que não é tão fácil assim fazer um draft, afinal, é uma grande previsão do futuro, onde no fundo ninguém sabe o que está fazendo, mas não significa que não possamos olhar para trás e ver não só as besteiras que foram feitas, mas também o que poderia ter sido feito do jeito certo.

Inspirado pelo draft nota F- da outra pseudo ex-franquia da cidade, o Lions, e como o Pistons já está de férias, resolvi olhar para os drafts do Pistons desde a fatídica troca do Billups, para ver como está sendo/foi a carreira dos jogadores escolhidos, quem poderíamos ter escolhido no lugar deles, entre outros desdobramentos. Começando por 2009, ou o marco zero na escala TROCA DO BILLUPS.

Como esse post começou a ser escrito há bastante tempo e eu demorei para ter vergonha na cara de terminá-lo, hoje (ou ontem, não sei quanto tempo vou demorar) o Pistons faz suas escolha no draft de 2019 - 15ª escolha, além da 30ª escolha conseguida numa troca com o Milwaukee Bucks (que eu ainda não decidi se gostei ou não) enviando Jon Leuer e recebendo a pick e Tony Snell - no dia 19/06.

2009 D.C. / Ano 0 

Round 1, pick 15 - Austin Daye, F, Gonzaga

Por um bom tempo, eu considerei Austin Daye o PIOR jogador que eu já vi jogar no Pistons - posto esse que, um tempo depois, foi assumido por Peyton Siva, que será citado nesse texto. Comparado ao possante Brian Cook, pelo nbadraft.net (o mesmo site que comparou o Deshawn Stevenson ao Michael Jordan), Daye nos AGRACIOU com basquete de nível duvidoso por 3 temporadas e meia, quando, no meio de 2013, foi trocado para o Grizzlies, numa bela troca em que os 3 times envolvidos saíram perdendo, ou ficaram na mesma. Em geral, era um jogador fraco, sem muito destaque particular em qualquer parte do jogo. Rodou por mais um tempo, até sair da NBA e ir pra Europa, onde está jogando hoje. Suas médias finais pelo Pistons foram de 5.8 pontos, 2.9 rebotes, 40.9% de arremessos de quadra, 35,8% de arremessos de 3 (um homem a frente de seu tempo!) em 206 partidas disputadas e 16 minutos por jogo.

Escolhas notáveis realizadas depois:

A escolha 15 não é a mais fácil de encontrar bons jogadores por si só, quem dirá as posteriores, mas em 2009 tivemos algumas boas escolhas após o Pistons ter jogado a sua no lixo: Jrue Holiday foi escolhido na posição 17, Ty Lawson na 18, Jeff Teague na 19, Darren Collison na 21, Taj Gibson na 26, entre outros jogadores. Todos os citados, se não estrelas, tiveram bons anos na NBA sendo sólidos jogadores para seus times.

Round 2, pick 5 (35ª geral) - DaJuan Summers, PF, Georgetown
Round 2, pick 9 (39ª geral) - Jonas Jerebko, PF, Georgetown
Round 2, pick 14 (44ª geral) - Chase Budinger, SF, Arizona - Trocado para o Rockets

Em geral, vocês perceberão nesse artigo que o Pistons acerta mais na segunda rodada do que na primeira, dois dos três jogadores escolhidos pela equipe na segunda rodada foram/são jogadores melhores do que a escolha de primeira rodada.

Summers jogou muito pouco no Pistons e não teve destaque - em 2011 foi jogar na europa, voltou à liga, rodou pela g-league, europa, e hoje está jogando na Turquia. Fez apenas 66 jogos pelo Pistons e 83 na NBA.

Jerebko teve algum destaque em times medonhos do Pistons, chegou a ser titular em alguns momentos e havia até certo otimismo em relação ao seu desenvolvimento para o futuro. Jerebko foi trocado para o Celtics junto com o entrevistado desse blog Gigi Datome pelo Tayshaun Prince com 35 anos - numa troca que CHACOALHOU a NBA. De lá, foi para o Jazz e para o Warriors, onde joga hoje e acabou de ter uma boa chance de ser herói das finais da NBA - não conseguiu.

Budinger é um jogador que eu sempre gostei, porém quem gostava bastante dele também eram as lesões. Em 8 temporadas na liga, só jogou mais de 60 jogos em 3. Era um bom arremessador, se tivesse ficado saudável provavelmente teria espaço na NBA até hoje; No entanto, como a vida é um negócio esquisito, hoje ele é jogador de VÔLEI DE PRAIA.


2010 D.C. / Ano 1 DTB 

Round 1, pick 7 - Greg Monroe, PF, Georgetown

Ah, a virada da década. 2010 começou um TREND (palavras jovens) na franquia de ter times ruins o bastante para ter escolhas top10, mas bons o bastante para não ter escolhas top5 e de formar equipes remendadas para tentar ir aos playoffs numa conferência patética e não conseguir mesmo assim - pensamento ecoado na free agency, mas isso fica para outro texto. O Pistons abriu a década escolhendo Monroe que, sendo bem honesto, é um ótimo jogador e foi a única lembrança de talento que o time teve por um bom tempo. É fácil esquecer que ele foi um free agent disputado (Sim! Inclusive, foi uma derrota bem divertida para o Lakers, quando ele recusou o time para assinar com o Bucks.) quando recusou a extensão oferecida pelo Pistons e virou free agent irrestrito. Monroe é um jogador muito bom ofensivamente no post, um passador de bom nível. Em 2010, a NBA era uma liga completamente diferente, em que esse tipo de habilidade ofensiva de um pivô ainda era relevante e coisas a preocupação com pivôs em trocas defensivas e o espaçamento em quadra gerado pela posição com arremessos praticamente não existiam. A NBA evoluiu, alguns jogadores evoluíram (Brook Lopez, Marc Gasol, DeMarcus Cousins, todos adicionaram arremesso de 3 ao repertório; Aliás, a gigantesca maioria dos pivôs que, ou fizeram a transição da década, ou entraram na NBA no começo da década e ainda são relevantes para a liga hoje, tiveram que aprender a arremessar.) e, ao mesmo passo, outros perderam completamente o espaço - o maior exemplo disso é Al Jefferson, e Monroe também entra nessa conta. De free agent disputado por múltiplas equipes e jogador de contrato máximo, à contrato indesejado e oportunidade para times com espaço no teto de conseguirem picks, a carreira de Monroe realmente deu uma volta de 180 graus. De Milwaukee, foi trocado para o Suns e cortado. Jogou ainda no Celtics, Raptors, Celtics novamente e terminou a temporada no Sixers, o que fez dele o jogador que havia jogado nos 4 semifinalistas do Leste esse ano. Ao menos ele terá uma para contar para os netos.

No Pistons, foi uma escolha difícil de se condenar, porque foi um jogador útil enquanto esteve na equipe - inclusive teve conversas em que o colocavam em um all-star game, em certo ponto de sua carreira. Ter saído de graça, no entanto, e o fato do resto da equipe ser péssimo enquanto ele esteve lá, diminuem o valor da escolha.

Escolhas notáveis realizadas depois:

Esse é o maior problema com a escolha de Monroe, o draft tinha vários nomes mais interessantes que teriam sido escolhas melhores. Entre eles, Gordon Hayward (9ª escolha), Paul George (10ª), Eric Bledsoe (18ª), além de jogadores que, se não são gênios do esporte, são sólidos contribuidores, como Ed Davis (13ª) e Avery Bradley (a maior farsa da NBA, 19ª).

Round 2, pick 6 (36ª geral) - Terrico White, SG, Ole Miss

Nunca jogou um jogo pela NBA, hoje joga no Bahrain.


2011 D.C. / Ano 2 DTB

Round 1, pick 8 - Brandon Knight - Kentucky

De todos os drafts recentes do Pistons, esse é um dos mais tristes. Brandon Knight era a promessa de um armador que iria ser o primeiro nome estável e de sucesso na posição desde Billups e a segunda peça do núcleo jovem que estava sendo montado junto com Greg Monroe. Tudo muito bonito em teoria, mas na prática Knight não estava pronto para ser um armador na NBA. Mas tudo bem, o time era jovem e havia paciência, certo? Não. Como o Pistons estava desesperado para voltar aos playoffs ao invés de reconstruir, por algum motivo, Knight foi trocado, em 2013, junto com Khris Middleton (já chegaremos nele) e Slava Kravtsov por Brandon Jennings. De lá, jogou alguns anos no Suns (com um contrado de 5 anos, 70 milhões), até ser trocado para o Rockets, na troca que a equipe de Houston fez para se livrar de Ryan Anderson. Então foi trocado mais uma vez, para o Cavaliers, onde está hoje. Terminou sua carreira no Pistons com médias de 13.1 pontos e 3.9 assistências por jogo (e 2.7 turnovers por jogo), com 41% de arremessos e 37% de arremessos de 3 pontos.

Escolhas notáveis realizadas depois:

Na escolha imediatamente seguinte (9ª), o Hornets (então Bobcats) escolheu o jogador que é o que o Pistons achava que Knight seria, Kemba Walker. Curiosamente, Walker é, há algum tempo, um jogador que muitas pessoas (inclusive eu) pensam que transformaria o Pistons num time competitivo para quem sabe vencer uma ou outra série de playoff. Além de Kemba, Klay Thompson (11ª escolha), Markieff e Marcus Morris (13ª e 14ª escolhas, respectivamente), Kawhi Leonard (15ª), Nikola Vucevic (16ª), Tobias Harris (19ª), Nikola Mirotic (23ª), Reggie Jackson (RISOS, 24ª), Jimmy Butler (30ª), entre outros jogadores úteis, como Kenneth Faried (22ª), Donatas Motiejunas (20ª), Iman Shumpert (17ª), Cory Joseph (29ª), entre outros - foi, realmente um draft profundo.

Eu tenho um palpite de que jogadores como Kawhi Leonard (assim como um outro, que aparecerá daqui a pouco), não seriam o que são hoje, se não tivessem caído numa equipe e numa situação favoráveis, como acabou acontecendo - ÓBVIO QUE qualquer versão do Kawhi seria melhor que qualquer versão do Knight, mas é uma consideração importante a fazer sobre esses re-drafts: é uma grande brincadeira de PREVER O FUTURO. Justifica um pouco, 14 times terem passado o Kawhi no draft? Sim. Torna o fato de 14 times terem passado o Kawhi no draft menos absurdo? Não.

Round 2, pick 3 (33ª geral) - Kyle Singler, SF, Duke
Round 2, pick 22 (52ª geral) - Vernon Macklin, C, Florida

Na segunda rodada, o Pistons saiu com um jogador que era extremamente promissor nos tempos de high school mas que ao sair da universidade já não parecia tão promissor assim. Singler teve alguns anos sólidos em equipes péssimas do Pistons, após passar um ano na Europa, em que chegou a ser titular e realmente fazer alguma diferença em alguns jogos, mas, como sua passagem pelo Thunder mostrou ao ser trocado, em 2015, para lá, em um time bom ficou evidenciado o quanto ele talvez não fosse tão bom assim. Os torcedores do Thunder que eu conheço o odeiam e, bem, não posso culpá-los por isso. Hoje está jogando na Espanha.

Macklin é um daqueles jogadores que são classicamente escolhidos no final da segunda rodada, o cara-grande-que-não-é-bom-mas-talvez-com-sorte-possamos-fazer-com-que-ele-vire-um-protetor-de-aro-reserva-decente e, assim como 99% dos jogadores que entram nesse SELETO grupo (ou, também, do grupo de jogadores escolhidos no final da segunda rodada), não deu certo. Hoje joga no Japão.

2012 D.C. / Ano 3 DTB

Round 1, pick 9 - Andre Drummond, C, Connecticut

Essa pick provavelmente é a mais difícil de julgar, tanto pela decisão na hora, quanto pelo seu desdobramento, 7 anos depois. Drummond é, claramente, o melhor jogador draftado pelo Pistons nesse período e, também, o único acerto da equipe em todos esses drafts. Na época, havia questionamentos sobre a work ethic do jogador, o que causou sua queda e, o Pistons já tinha jogadores para a posição no elenco - além de óbvios buracos em outros lugares - mas Dumars apostou no talento de Drummond mesmo assim. Deu certo, Drummond é um excelente jogador, talvez o melhor reboteiro que já passou pela liga desde Dennis Rodman, um ótimo passador e um jogador que, às vezes, consegue ser realmente o diferencial em partidas. O maior problema em relação a ele é a sensação de que ele poderia e, pelo que a equipe investiu nele, talvez deveria, ser muito mais do que é, em especial quanto à defesa e comprometimento dentro dos jogos - começos ruins em partida tendem a fazer com que Drummond suma do jogo, sua defesa não é tão boa assim no aro e ele também não é tão bom marcando no perímetro em switches, além de várias posses por jogo desperdiçadas em jogadas ruins no post. Drummond é meio polarizador nesse sentido e, em certo ponto, um pouco decepcionante. Mas ele só é decepcionante porque conseguiu superar muito as expectativas iniciais e porque, realmente, ele possui características de elite em seu jogo, o que faz com que inerentemente pensemos 'ah se ele fosse assim em tudo...'

Escolhas notáveis realizadas depois:

O Pistons acertou tanto nessa escolha e, por mais polarizador que Drummond seja, não há nenhum jogador escolhido no restante da primeira rodada (que é o critério que estou utilizando aqui) que tenha tido ou esteja tendo uma carreira melhor que ele na NBA. Considerando o resto do draft como um todo, talvez apenas Draymond Green (35ª escolha) seja um jogador melho que Drummond.

Round 2, pick 9 (39ª geral) - Khris Middleton, SF, Texas A&M
Round 2, pick 14 (44ª geral) - Kim English, SG, Missouri

Impressionante (e triste) como esse draft acabou sendo realmente excelente para o Pistons e simplesmente não foi aproveitado pra nada. Middleton foi enviado para o Bucks como parte da troca do Jennings (já vi em alguns lugares que Dumars quis mandar o Middleton ao invés do Singler, mas não sei se isso é verdade) e eu lembro de à época, ter lamentado a perda do jogador, apesar de ter escrito nesse mesmo espaço, de que ele dificilmente passaria de um shooter, ou um role player. Como sempre, eu estava errado. Middleton teve espaço para se desenvolver em Milwaukee e se tornou o tipo de jogador mais valorizado na NBA hoje em dia: bom defensor e bom arremessador e, como recompensa, ganhará muito dinheiro em sua free agency esse ano, seja com o próprio Bucks, seja com outro time. Sabe que time precisa MUITO de um jogador como Middleton já há muitos e muitos anos? O Detroit Pistons. A vida é um negócio bizarro demais.

English não era tão talentoso quanto seu companheiro. Rodou pela g-league, europa e Venezuela, até se aposentar em 2015 e virar técnico. Hoje é assistente da universidade do Tennessee.

2013 D.C. / Ano 4 DTB

Round 1, pick 8 - Kentavious Caldwell-Pope, SG, Georgia

Apesar de uma força nominal invejável, KCP nunca atingiu qualquer expectativa e, no fim das contas, acabou se tornando mais uma das escolhas do Pistons que sai da equipe e some da liga. Apesar de ter tido alguns anos até decentes (em especial, 2016-17, que era seu contract year), ele nunca conseguiu dar o próximo passo. Sabendo que a procura por alas que defendem e arremessam na NBA é tão grande que os times pagam contratos enormes para jogadores que fazem essa função -  os 3-and-d (mesmo que, no caso de KCP, eles sejam os '3-and-desespero' - arremessadores que não acertam arremessos e defensores que não defendem) o Pistons sabia que ele ia pedir um contrato máximo ao fim do seu contrato e, felizmente, enxergou que isso era uma insanidade e renunciou os direitos sobre o jogador, deixando-o livre no mercado para assinar com o Lakers, iniciando, assim, uma leva de excelentes escolhas da equipe angelina na free agency, como todos pudemos observar no time montado para a temporada passada. Em LA, KCP continuou sendo o que sempre foi: arremessador que não acerta arremesso e defensor que não defende.

Escolhas notáveis realizadas depois:

Mock drafts da época (que vi vários, pois fiz vários textos aqui nessa época) colocavam o Pistons entre dois jogadores: C.J. McCollum ou Michael Carter-Williams. Seis anos depois, McCollum se transformou em um dos principais jogadores da NBA e o segundo melhor jogador num time perene nos playoffs, enquanto MCW começou com um quase quádruplo-duplo em sua estréia na NBA e desde então esteve em queda livre e não conseguiu mais jogar. Essa situação diz muito sobre o draft.

Além desses dois, outra bela história desse draft foi que o Pistons passou Trey Burke, que tinha acabado de fazer um belíssimo NCAA Tournament por Michigan e, aparentemente (aparentemente!), teria sido o fit perfeito para a equipe, pela posição e por ter jogado em Michigan, etc. Inclusive proporcionou uma das coisas que eu escrevi que eu acho mais divertida, engraçada e ridícula ao mesmo tempo, que foi esse artigo aqui. Realmente, tempos mais simples.

Esse draft foi esquisito, considerando que os melhores jogadores demoraram a sair. Além do próprio McCollum (10ª escolha), Steven Adams (12ª), Giannis Antetokounmpo (15ª) e Rudy Gobert (27ª), são os grandes destaques da primeira rodada. Reggie Bullock, que a pessoa que está escrevendo esse texto ama de paixão, foi a 25ª escolha.

Giannis, obviamente, é o grande destaque do draft, mas tenho com ele a mesma opinião que tenho com Kawhi Leonard. Muito das carreiras desses jogadores é parte do time e situação em que eles são inseridos. Méritos do Bucks por apostar em um jogador aleatório de nome estranho da segunda divisão grega. Parece ter dado certo pra eles.

Round 2, pick 7 (37ª geral) - Tony Mitchell, PF, North Texas
Round 2, pick 26 (56ª geral) - Peyton Siva, PG, Louisville

Tony Mitchell é um jogador que foi bem nas duas Summer Leagues que participou. Na época eu defendi que ele deveria ter algumas chances na equipe, que nunca vieram. Jogou 21 jogos na NBA e o ponto alto de sua carreira é que foi envolvido em uma troca pelo segundo maior jogador da história da NBA, Anthony Tolliver (afinal, Will Bynum é inalcançável na primeira posição). Da NBA, rodou pelo mundo, passou duas vezes pelo COCODRILOS DE CARACAS e hoje joga nas Filipinas.


Siva é o pior jogador que eu já vi vestir a camisa do Pistons.

2014 D.C. / Ano 5 DTB

Round 1 - Não teve™

No draft que foi ostensivamente divulgado como o melhor draft desde 2003 e um draft que tinha uns 20 jogadores com potencial de titular, obviamente o Pistons não teve escolha na primeira rodada. Essa escolha foi para o Hornets, que tinha absorvido o contrato do Ben Gordon em troca de Corey Maggette e essa escolha, cujo espaço salarial o Pistons utilizou para contratar Josh Smith. Acho que nunca tantos erros foram colocados numa mesma frase.

Bom, no super draft com PELO MENOS 20 titulares, o Hornets utilizou a pick 9 no PF Noah Vonleh, de Indiana que deu errado, foi trocado duas vezes na carreira e hoje está no Knicks. Ele ter feito parte do Knicks da temporada passada é tudo o que eu preciso dizer sobre o seu sucesso na NBA.

Como Vonleh não deu certo, vários jogadores escolhidos após a escolha 9 teriam sido melhores opções, mas entre elas, alguns que se destacam são, Dario Saric (12ª escolha), Zach LaVine (13ª), Jusuf Nurkic (16ª), Gary Harris (19ª), Rodney Hood (23ª) e Clint Capela (25ª).

Round 2, pick 8 (38ª geral) - Spencer Dinwiddie, PG, Colorado

Lembro de ter perguntado a um amigo que acompanha o college sobre essa escolha, à época. Ele me disse que Dinwiddie era um bom jogador com bastante potencial, que só tinha caído tanto porque tinha se machucado no college. Esse meu amigo realmente estava certo, Dinwiddie realmente virou um jogador muito bom que está contribuindo bastante para seu time, o Nets.

É muito fácil olhar para trás, ver que ele foi draftado pelo Pistons e está contribuindo por outro time e colocar a culpa na franquia, o que eu acho válido, porém minha ressalva é em relação ao direcionamento dessas críticas. O problema não foi o Pistons ter desistido do Dinwiddie, ele realmente era um jogador ruim que não estava pronto para a NBA enquanto estava na equipe. O problema é que o Pistons, à época ainda se recusava a reconstruir e estava tentando desesperadamente voltar aos playoffs (evidenciado pela contratação do Josh Smith, inclusive, a pick que o Pistons perdeu no draft era protegida top8, e coincidentemente, a equipe tinha tido a 8ª pior campanha da temporada. Porém como o Cavaliers pulou para a primeira escolha (como sempre), a pick se transformou na nona e foi enviada para o Hornets), o que fez com que não se tenha tido paciência com o jogador para que ele se desenvolvesse. A maior prova disso é que, do Pistons ele foi para o Bulls, onde foi cortado duas vezes. Apenas no Nets, que era uma equipe que estava com a mentalidade correta para um tipo de jogador como ele, Dinwiddie conseguiu finalmente ter tempo para evoluir seu jogo e se transformar no jogador útil que é hoje.

Em resumo, o Pistons estragou tudo desde 2009 por não aceitar que devia reconstruir direito.

2015 D.C. / Ano 6 DTB

Round 1, pick 8 - Stanley Johnson, SF, Arizona

Stanley Johnson era visto no draft como um jogador pronto para contribuir. 4 anos se passaram e ele ainda não se provou capaz de contribuir na NBA. Ele teve um primeiro ano OK e, até promissor, em certos pontos - parecia ser um bom defensor que, caso melhorasse seu arremesso, poderia ter uma sólida carreira na NBA. Os anos passaram, ele nunca melhorou seu arremesso, sua defesa não era tão boa quanto parecia e, por mais que tenha mostrado alguns flashes em infiltrações e como criador de jogadas, sempre que Stanley estava em quadra, o time piorava. Eventualmente, mesmo desesperado por alas, o Pistons desistiu do jogador e o mandou para o Pelicans em uma troca de 3 times que mandou Thon Maker para o Pistons e Nikola Mirotic para o Bucks, em mais um negócio que ABALOU as estruturas da NBA.

Escolhas notáveis realizadas depois:

No dia do draft, foi notável que o Pistons passou Justise Winslow, que foi para o Heat na 10ª escolha. Honrando seu nome, está demorando a vencer no Heat e também não virou muita coisa até o momento. Myles Turner (11ª escolha), Devin Booker (13ª), teriam sido melhores escolhas, também.

Round 2, pick 8 (38ª geral) - Darrun Hilliard, SG, Villanova

Na incansável busca da NBA por arremessadores, Hilliard foi mais uma tentativa. Foi bem em seu primeiro ano, quando arremessou 38% de 3 pontos e parecia que poderia ser um contribuidor vindo do banco, porém despencou para 26% em seu segundo ano e o Pistons desistiu. Jogou um ano no Spurs e hoje está no basquete espanhol.

2016 D.C. / Ano 7 DTB

Round 1, pick 18 - Henry Ellenson, PF, Marquette

Vindo de um bom ano e buscando reforçar uma equipe que foi aos playoffs com peças específicas, o Pistons pegou Ellenson na tentativa de ter um jogador de garrafão que também fosse bom arremessador. Obviamente ficou só na tentativa e Ellenson nunca teve espaço de verdade na equipe, tendo feito apenas 59 jogos pela equipe em 3 anos, tendo passado a maior parte do tempo na g-league. Foi dispensado e passou brevemente pelo New York Knicks. Novamente, um jogador que fez parte do Knicks da temporada passada diz mais do que tudo o que eu poderia dizer sobre ele.

Escolhas notáveis realizadas depois:

É complicado esperar muito da 18ª escolha, mas o draft de 2016 teve alguns bons jogadores no final da primeira rodada (lembrando que basicamente qualquer jogador seria melhor que o Ellenson, pra ser sincero), entre eles Malik Beasley (19ª escolha), Caris LeVert (20ª), Pascal Siakam (27ª) e Dejounte Murray (29ª).

Round 2, pick 19 (49ª geral) - Michael Gbinije, SF, Syracuse

Gbinije é a típica escolha de final de draft que não se espera muita coisa e, caso vire algo, é um bônus. Não deu certo e jogou apenas 9 jogos na NBA, mas joga até hoje na g-league, talvez algum dia ganhe outra oportunidade. Jogou a temporada 2018-19 pelo Santa Cruz Warriors.

2017 D.C. / Ano 8 DTB

Round 1, pick 12 - Luke Kennard, SG, Duke

Kennard é um bom jogador e tem potencial para ser um grande destaque do Pistons por muitos anos. Ele é a grande esperança de um elenco engessado se tornar melhor e ajudar o Pistons a brigar por algo a mais. Luke é um reserva sólido, que pode se tornar algo a mais, foi uma boa escolha. O grande problema vem a seguir, no entanto.

Escolhas notáveis realizadas depois:

Na escolha seguinte (13ª), o Utah Jazz escolheu Donovan Mitchell, que teve um ano de novato sensacional e parece destinado a se tornar uma grande estrela na NBA. O Pistons treinou com Mitchell e o jogador disse que acreditava que a franquia o escolheria. Por algum motivo, não escolheu e, por melhor que Kennard seja, sempre será comparado, ao menos nos círculos do Pistons, ao jogador que veio na escolha seguinte.

Além de Mitchell, outro jogador notável escolhido depois do Pistons ter feito sua escolha foi Kyle Kuzma (27ª escolha), mas não o considero melhor que Kennard, o que mostra que a equipe de Detroit fez uma boa escolha que, infelizmente, teve um leve asterisco. Considerando todos os drafts apresentados nesse artigo, provavelmente é o segundo melhor draft que o Pistons fez, o que diz muito sobre o estado atual da franquia.

Em 2017 o Pistons não teve escolha de segunda rodada, que estava com o Jazz. Utah escolheu Thomas Bryant e o trocou para o Los Angeles Lakers.

2018 D.C. / Ano 9 DTB

Round 1 - Não teve

Em 2018 o Pistons enviou sua escolha de primeira rodada para o Los Angeles Clippers, como parte da troca por Blake Griffin, que a equipe angelina utilizou para selecionar o SF Miles Bridges, de Michigan State, na 12ª posição. Como defensor ferrenho da troca por Griffin e como se passou apenas um ano, não posso fazer muitos comentários aqui.

Round 2, pick 12 (42ª geral) - Bruce Brown, SG, Miami

Na segunda rodada, o Pistons escolheu Bruce Brown, que foi titular por boa parte do ano por falta de opção. Por mais que não seja genial, Brown parece um jogador que pode ser um sólido contribuidor vindo do banco no time certo, como 7ª ou 8ª posição em um bom elenco. Como titular no Pistons, comprometeu pouco, ajudou pouco também. Seu arremesso é um projeto, e sua defesa é ok, com potencial para ser um bom contribuidor nesse lado da quadra.

Além de Brown, o Pistons trocou por Khyri Thomas, SG de Creighton, na escolha 38, mas Thomas jogou muito pouco em seu ano de calouro, então não é possível fazer qualquer tipo de avaliação sobre ele.

Drafts são experiências, acima de tudo, de tentativas de adivinhação. É impossível acertar em todos e é muito difícil acertar na maior parte do tempo. Às vezes, basta um acerto para transformar uma franquia (Como o Bucks com Giannis, ou o Nuggets com Nikola Jokic, por exemplo), às vezes times passam anos e anos errando e, no processo, adiando mais e mais suas janelas de sucesso. Exemplos recentes são o Orlando Magic e o Charlotte Hornets, por exemplo. O Pistons, nesse sentido, fica em uma outra categoria. Um time que erra constantemente no draft, mas que não se compromete a ele, não se coloca em posição de acertar. Em um processo em que a sorte é tão envolvida e que suas tentativas são tão valiosas, tantos fracassos no draft ajudam a explicar o motivo de há tanto tempo o Pistons não ser relevante na NBA. Uma mentalidade que não deu certo para o draft, não deu certo na free agency, mas deu certo em uma coisa: tornar o Pistons uma equipe mediana, que está fadada à mediocridade por algum tempo, até que, finalmente, alguém diga chega e tente, enfim, recomeçar do jeito certo.