quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O novo velho Detroit Pistons

Augustin saiu do banco para enterrar o Mavericks ontem à noite
Confesso que estava relutante em elogiar o Pistons após a dispensa de Josh Smith. A notícia de sua dispensa no dia 22 do último mês pegou todo mundo de surpresa. No final, àquela altura, balanceando os prós (todos) e os contras (nenhum), dei minha opinião de que sim, tinha sido um movimento inteligente. E mal podia esperar o próximo jogo para ver como as coisas aconteceriam dentro de quadra.
Quatro dias depois, 26, no dia seguinte à rodada de natal, o Pistons (5-23), recebia o Pacers (10-20). Olhando no papel, discutivelmente - com todos os problemas que o Pacers vem enfrentando - tínhamos melhor time. Mas a questão não era essa, e sim ver como o time reagiria ao corte do jogador mais caro do elenco - e menos eficiente também. O Pistons, discretamente, fez uma boa partida. Diferentemente da sina de tempos recentes, fez um terceiro período muito consistente e levou boa vantagem para os doze minutos finais, para conquistar seu sexto triunfo em 29 jogos. Pistons 119, Pacers 109. Greg Monroe, novamente titular incontestável, explodiu. 19/15. Não sei se parecia impressão de um jogo só, mas senti o Pistons diferente. Mais organizado. Sem Josh Smith pesando no ataque - uma primeira opção ofensiva que não cria o próprio arremesso, na verdade mal sabe arremessar; tampouco cria jogadas, e muito menos joga de costas pra cesta -, Brandon Jennings parece ter tido a oportunidade de armar o jogo "de verdade". Sim, na temporada passada ele entrou no top 5 de assistências por jogo, mas não eram assistências que importavam, diferente dessas dez distribuídas contra Indiana.

Mas era ainda uma amostra pequena, contra um time também cheio de problemas. "Quero ver contra o Cleveland lá", pensei. E, dois dias depois, o Pistons estava lá, em Cleveland, destruindo o time da casa que, apesar de não ter tido o seu armador titular - Kyrie Irving - no jogo, ainda contava com Kevin Love e LeBron James em quadra. Não nos importamos. James teve uma noite de Josh Smith arremessando a bola (5-19 FG, 2/6 3FG), e só observou mais uma grande noite de Andre Drummond (16/17), Jennings (25 pontos) e da equipe toda do Pistons que, teve uma bela ajuda de Jodie Meeks, ainda entrando no ritmo após a lesão, DJ Augustin, e bons minutos de Jerebko. O grande problema da equipe, os arremessos de três pontos, foram quase perfeitos por uma noite: 17-31 para 54,8 em percentagem. Desde que o basketball-reference tem esses dados (a partir da temporada 1984-85), foi a primeira vez que o Pistons terminou um jogo com mais de 30 bolas de três arremessadas e mais de 50% de aproveitamento. O stat muse mostra que o mais próximo disso havia sido 44%. Repare também que dos seis primeiros jogos com maior % - com um limite de ótimos 39% (seria o quinto na liga hoje) - quatro deles foram na sequência invicta desde a dispensa de Josh Smith. Dois terços, ou 67%, aproximadamente. Na história da franquia.

Partidas do Pistons com mais de 30 arremessos de três - por % de acerto (fonte: statmuse)

Confesso que depois dessa vitória em me empolguei um pouco mais. Mesmo assim, as partidas contra um Magic que já tinha nos vencido antes (e dominado o nosso garrafão), e um Kings que vinha muito bem até a demissão do treinador (e, por coincidência também tem um garrafão bom), definiriam meu nível de empolgação para as próximas semanas. A primeira, fora de casa contra o Magic trouxe uma atuação extremamente dominante da equipe. 23 pontos de diferença, que podiam ser mais. Porém o número que eu mais gosto dessa partida é o seguinte: entre todos os 13 atletas que entraram em quadra naquela noite, apenas TRÊS deles atingiram 10 pontos ou mais. Augustin anotou 11, Drummond 17 - além de 22 rebotes e 3 tocos - e Jodie Meeks explodiu para 34 pontos vindo do banco, 9-11 em arremessos de três, 11-16 nos arremessos de quadra. A cada jogo o Pistons ia melhorando uma fraqueza. No jogo seguinte mais uma boa atuação contra um fraco Knicks, e dessa vez quem se destacava era Jennings. Preparando o show para dois dias depois.

Contra o Kings, Jennings, pela terceira vez em oito dias, conseguiu pelo menos 50% de arremessos de quadra com mais de 15 tentativas, feito que, em Detroit, ele só tinha conseguido quatro vezes.

Jennings quase dobrou seu número de jogos com mais de 50% FG em mais de 15 arremessos pelo Pistons em, praticamente uma semana (fonte: statmuse)
Apesar desse número mostrar que quando Jennings arremessa demais ele na maioria das vezes perde o controle, esse número de altos arremessos em sequência mostra a confiança que o jogador e o Pistons como time tiveram nesses cinco jogos. Eles começaram a jogar sem pressão. A realmente espaçar a quadra, e a contar com uma ascensão de seu garrafão e banco para dominar e vencer adversários e, dobrar seu número de vitórias na temporada em nove dias. Só que tinha um problema: seriam Kings, Knicks, Pacers, Magic bons comparativos? Seria o jogo contra o Cavaliers um ponto fora da curva? Seria toda a sequência um ponto fora da curva? Minha cabeça dizia que sim. "Agora vem o teste de verdade", pensava o corneta aqui mais uma vez. "Spurs e Mavericks, fora de casa, em back-to-back. Agora eu quero ver."

Anteontem. 06/01. Pistons em San Antonio para enfrentar o Spurs. Apesar de limitados minutos de Tony Parker, e poucos de Duncan, esse último por opção do treinador Gregg Popovich, ainda era o Spurs, atual campeão da NBA, atual bicampeão da forte conferência Oeste. O primeiro quarto mostrou isso. O Spurs foi cirúrgico, como sempre é. Perfeito. Liderava por 37-20. Acostumados com o time anterior, com o espírito anterior, muitos torcedores (inclusive eu) já tinham jogado a toalha. Tanto faz. O Pistons não jogou. Foi aos poucos. De 17 foi caindo. 12, 10... O Spurs lutava e tentava manter a vantagem. No final das contas, eram 7 pontos ao final do primeiro tempo. Mas Tim Duncan, esbanjando classe e categoria, colocou a diferença em nove. Hora de enfrentar o fantasma do terceiro quarto? Ou a meta era só perder de pouco?

Numa grande atuação da equipe, a defesa funcionou magistralmente. Corrida de 20-3, deixando o Spurs longos nove minutos sem um arremesso de quadra sequer. A liderança chegou aos 11 pontos. Só que o Spurs é um time muito experiente, tratou de diminuir isso logo. Chegamos ao último período ganhando por cinco. As equipes seguiram trocando cestas até que no final, após várias infiltrações desperdiçadas por Brandon Jennings, que teve noite ruim arremessando, o Spurs tinha dois pontos de frente. Mills foi para a linha do lance livre, errou um, acertou o outro. Três pontos. O Spurs errou vários lances livres na reta final de jogo, bola nas mãos de Jodie Meeks. O Spurs fez a falta. Meeks fez seu trabalho na linha de FTs e deixou a diferença em um ponto. Depois do pedido de tempo, Duncan foi dar a saída, passou para Mills que não pegou a bola. A bola pipocou na quadra com 7 segundos e contando no relógio. Rapidamente chegou em Jennings que preteriu o arremesso de longe. Infiltrou e venceu o jogo com uma bandeja. 

Foi um jogo que mostrou o que esse time tem que ser. Vontade para reverter uma vantagem grande de um grande adversário. E o mais importante: o Pistons teve momentos muito difíceis ofensivamente no final do quarto período. Mas DJ Augustin, e o time acharam um jeito de manter o jogo próximo. E no final, Jennings que não contribuiu o jogo todo com arremessos, encontrou outro jeito de contribuir. Infiltrando. 

Em um jogo em que a dificuldade da linha de três pontos apareceu de novo (3-19), logo pensei em regressão. O próximo jogo era no dia seguinte, contra outro adversário muito forte, fora de casa. Depois de tantas boas respostas, ainda pensava no "O próximo teste é o que vale". E os bons arremessos de três voltaram (47,6%) no dia seguinte. Monroe e Drummond combinaram para 37 rebotes (o time teve 60 no jogo) e 33 pontos. O Pistons nunca ficou atrás do placar. Apesar de tudo, apesar do Mavericks ter encurtado a distância às vezes, a equipe visitante sempre tinha uma resposta. No entanto, o time da casa estava seis pontos atrás entrando no último período e tentou reagir, até DJ Augustin, mais uma vez ele, enterrar de vez o Mavs com 17 de seus 26 pontos, metade do que a equipe anotou no quarto todo.

Amanhã, de volta ao Palace, recebemos os líderes da conferência leste, o Atlanta Hawks. Sim, de novo estou com o pensamento "De agora não passa, é só uma fase". Me enganei até agora, espero continuar me enganando. 

Mas na verdade, só de ver um Pistons que joga bem, luta dentro de quadra, com raça e energia, vence adversários fortes, eu já estou bem feliz. Nem que sejam só sete pontos fora da curva.

*Números do Pistons antes e depois da sequência de sete vitórias.


------ Off Rtg Def Rtg %FG 3P FG% PPG APG RPG +/-
Antes da dispensa
99,1
106,5
41,9
33,6
95,9
20,1
44,8
-6,0
Depois da dispensa
111,5
94,3
48,0
40,7
107,9
22
49,4
+15,0


(Legenda:
Off Rtg: Média de pontos marcados a cada 100 posses de bola;
Def Rtg: Média de pontos sofridos a cada 100 posses de bola)










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