sábado, 29 de junho de 2013

Desabafo


Anteontem tivemos o draft. Sessenta jovens jogadores conheceram suas novas cores, na NBA. Faremos duas análises, uma parcial e uma imparcial. Vamos à parcial, também conhecida como “Desabafo”.
O draft é o evento anual em que equipes tentam sair do ostracismo, através de novos jogadores com potencial, até aí todos sabem. E que o Pistons faz parte desse grupo de times, sabemos, também. Assim como o responsável pelas escolhas, o gerente-geral Joe Dumars.


Escrevo isso à meia-noite, no dia do draft. Ainda com os ânimos não-confiáveis e com a imparcialidade não garantida. Com certeza, farei um post analisando os prós da escolha do Pistons, por que elas existem sim – por incrível que pareça! – mas aqui, quero apenas criticar. Entendam, por favor. E por criticar, posso falar coisas, que muitas vezes, possam ser enxergadas por outro ângulo, de modo que façam sentido. Mas não farei isso aqui. 
Novamente, estou frustrado, peço compreensão.


Comecemos, então. E embora eu deteste o assunto, e ache que ele já se esgotou, é impossível unir Dumars e draft na mesma sentença e se esquecer de Darko Milicić. Outra história já conhecida, Darko foi a segunda escolha do draft de 2003, antes de Carmelo Anthony, Dwyane Wade e Chris Bosh. E recentemente se aposentou, da NBA. Disse que não sairá mais da Europa.


Porque trago essa história? Bom, com a proximidade do draft, todo ano alguém da imprensa americana faz um artigo sobre isso. E, uma delas desse ano, explicava (ou tentava) o porquê da decisão de Dumars. Voltando à fatídica história de dez anos atrás, a segunda escolha não era do Pistons. Ela era do Memphis Grizzlies, que seria do Pistons naquele ano, oriunda de uma troca por Otis Thorpe, em 1997. Porém, as chances do Grizzlies tendiam à 6ª escolha (6.4%). Na noite do sorteio da loteria, o Pistons foi treinava em uma faculdade, em Manhattan, preparando-se para o jogo que faria a noite, naquele dia. Era o jogo 3 das finais da conferência Leste, contra o New Jersey Nets. E, por uma fatídica coincidência, Darko Milicić usava o mesmo local para treinar. No dia, comum, ele estava lá, treinando. O Pistons treinava ao lado, separado por uma cortina. Chad Ford, analista da ESPN americana foi até Dumars, e perguntou a ele, se sabia quem estava lá. De repente, Dumars estava assistindo Milicić treinar. Dumars, Rick Carlisle, treinador do Pistons na época, todos se encantaram com o menino sérvio – Dumars disse que ele seria melhor que Nowitzki, – mas sabiam que ele não poderia ser escolhido pelo Pistons, na 6ª escolha já não estaria disponível. Aí veio o sorteio da loteria e... TCHARAAAM, segunda escolha!


Com o Cavs declarando que iria escolher LeBron James, caminho livre para o Pistons e, para Milicić. O jogador com que Dumars sonhara, jogaria em Detroit.


Peço perdão por relembrar essa história, sei que muitos irão pular o parágrafo, inclusive. 
Então, voltemos a 2013. A loteria apontava o Pistons como detentor da 7ª escolha. Porém, o Washington Wizards, com a 8ª chance geral, deu a sorte na loteria e pulou para 3º. E o Pistons caiu, para 8º.

Na NCAA, a universidade de Michigan (para quem não sabe, Detroit é uma cidade localizada no estado de Michigan) ia muito bem obrigado. Em 39 jogos venceu 31. Posteriormente, chegou ao Final Four e, a final. Perdeu para Louisville, é verdade, mas chegou lá com uma grande ajuda de um armador que tinha 18.5 PPG, 45.9%FG e 6.8 APG. Seu nome? Trey Burke.


Mas em que a história de Burke se assemelha com a de Milicić? Para todos – menos para Dumars, ao que parece – ele era o sonho da vez, em Detroit. Jogador da região, Burke tinha a torcida do estado inteiro, para que ele continuasse em Michigan. Mas havia um problema: O Pistons tinha a sétima escolha (que viria a se tornar a oitava). Com o desempenho de Burke no Final Four, os mock drafts de momento o apontavam entre as três primeiras escolhas. Alguns o colocavam no máximo até a quinta pick. O Detroit tinha a sétima.

Voltemos à loteria. Oitava escolha. Trey Burke cada vez mais longe. Os nomes da vez no Pistons eram C.J. McCollum, ou Michael Carter-Williams. O primeiro, um combo guard (que confesso detestar jogadores com essa característica, possivelmente trauma do Stuckey). Já o segundo, um armador. E Burke, ia cada vez mais longe, no famigerado top 5. O “sonho” Burke ficava distante.


Mas o tempo foi passando, e os mock drafts começaram a descer Burke. Nessa semana, o mais provável é que ele fosse escolhido pelo Sacramento Kings, imediatamente antes do Detroit Pistons, na escolha que, “por direito”, seria sua. Era um gosto muito amargo. Joe Dumars disse que escolheria o melhor jogador possível, e já projetávamos o time com Carter-Williams, ou McCollum.


Mas aí, o Cleveland Cavaliers resolveu aprontar. Com a escolha de Anthony Bennett com a pick 1, abriu espaço para que Trey Burke, talvez, chegasse até a oitava escolha ainda sem clube. Mas foi quando o Charlotte Bobcats resolveu escolher Cody Zeller, que essa chance se tornou real. Haviam quatro jogadores que as equipes  não deixariam passar. Chegamos à oitava escolha. E ele ainda estava lá.


Por cinco minutos, eu estava lá, olhando o twitter (não assisti o draft) e dando piruetas, correndo pela casa, quando descobri que o Kings deixara Burke de lado, caindo no colo de Joe Dumars. Eu e – acredito que todos – os torcedores do Pistons estávamos em êxtase. De repente, Adrian Wojnarowski escreve que o Pistons iria escolher Kentavious Caldwell-Pope, com sua oitava escolha.


Por cinco minutos, mais uma vez, eu estava lá, olhando o twitter. Mas dessa vez atônito, estarrecido. Por cinco minutos, torcia para que Adrian, um dos repórteres mais conhecidos e confiáveis de toda a imprensa, estivesse errado. Mesmo sabendo que ele dificilmente erra.


A notícia se espalhou. De repente, era verdade. O “sonho” Trey Burke estava lá, mas ele seria deixado de lado. Deixado, trocado, por um jogador que sequer havia treinado com o Pistons e seus olheiros. Um jogador, que não tinha tido sequer um contato profissional com Dumars e a equipe gerente do Pistons – no que estava marcado, ele não pode comparecer, devido a uma leve lesão no braço –, apenas um almoço.


De que adiantam treinos, não é mesmo? De que adianta ser o principal jogador de sua equipe, e levá-la a final universitária do país? De que adianta ter a confiança e o carinho de todo um estado? Aparentemente, no mundo Dumars, nada.


Mas Dumars havia dito que selecionaria o melhor jogador disponível, não é mesmo? Mas nos esquecemos, que no mundo em que ele vive, Charlie Villanueva merece um contrato de 8.58 milhões por ano, absurdos 37.70 milhões no total. Esquecemos, que no “mundo de Dumars” Ben Gordon é bom o bastante para receber 10 milhões por ano (depois 11, 12 e nesse ano, já no Bobcats, 13 milhões). Inexplicáveis 50 milhões no total. Olhando assim, é fácil concluir que, no mundo Dumars, Kentavious é melhor que Trey Burke que, já é apontado pela imprensa – CBS Sports –, como candidato a Rookie of The Year. Óbvio que isso é apenas especulação, não sabemos como Burke – ou KCP – irá se adaptar. Mas, para alguém que havia dito que escolheria o melhor jogador disponível, o esperado seria que, ao menos, esse jogador fosse cotado entre os palpites iniciais e sem fundamento.

Não vou nem comentar as justificativas do Dumars, inclusive, elas falam por si só. Apenas por ele ter dito que a situação de KCP se compara à Reggie Miller, podemos parar por aí. Totalmente aleatório, fora de contexto e de situação. Mais um ponto a menos para você, Joe.


Burke cairia como uma luva no time do Pistons. Iria formar um perímetro jovem e de futuro com Knight (e mais um), que já não sei se tem tanto futuro assim, diga-se. Mas Dumars não acha. Burke é do estado, tem o prestígio dos torcedores – que provavelmente irão pegar no pé do KCP, no início apenas, creio –, a paciência deles. Para Dumars, isso simplesmente não importa.


Com isso, podemos concluir que Calderón ainda tem espaço no Pistons, já que com Burke, 
ele perderia tal espaço. Podemos concluir, que com isso perdemos um armador jovem e de futuro, por um desenvolvido, mais velho e que não pedirá pouco para renovar. Podemos concluir que perdemos doze anos e alguns milhões no teto salarial.

Confesso que ainda tinha esperanças com Dumars. Já o defendi, aqui no blog, dizendo que daria uma chance a ele, mesmo depois de todas essas besteiras, e de três anos tendo que se contentar em perder. Mas dessa vez perdi a paciência (que pode até voltar, mais tarde e com a free agency).


Até consigo relevar a contratação de Maurice Cheeks, pensando nos jovens jogadores que temos e tudo mais, mas Trey Burke era o que o Pistons precisava. Todos sabíamos disso, menos Dumars.


Mas, alto lá, também. Caldwell-Pope não será inútil em Detroit. Pelo contrário, o Pistons realmente precisava de um SG, e de um jogador atlético, com arremesso bom, e que corra, abrindo espaço para infiltrações de Monroe e Drummond. Mas espera aí, quem vai levar a bola até eles? Pois é, Dumars acha que Knight fará isso (considerando que Calderón não renove, embora depois de ontem, esteja acreditando piamente nessa possibilidade). Eu não. Quantas vezes Knight desperdiçará a bola em jogadas do tipo? Mas, quanto a isso, resta a esperança de que Maurice Cheeks, dito bom em desenvolver jovens – principalmente armadores – consiga transformar Knight em um.


No final, entramos no draft conformados, saímos frustrados. Resta esperar que o que o Dumars viu em Caldwell-Pope seja real – e não o que ele viu em Milicić, Villanueva e Gordon –, o futuro nos cale, e KCP e contribua para melhorar o Pistons, afinal, ele não tem culpa pelo Joe.


Joe que, aliás, terá que trabalhar muito nessa free agency que começa hoje, porque começou a temporada com um erro duplo. E eu que achava que iríamos para playoffs essa temporada, doce ilusão.


O sonho, às vezes é inalcançável, isso por si, dói. Mas quando ele está lá, pronto para você, e você o ignora, dói muito mais. Quando quem ignora esse sonho não é você, mas alguém que, em tese, te representa, a dor é insuportável.


O sonho? Ele está em Utah agora, de azul, verde e branco.


*Me reservo no direito de retirar tudo o que disse caso, realmente, KCP dê certo no Pistons e melhore o time, inclusive torço para que isso aconteça. Peço desculpas pelo texto gigante, mas precisava desabafar, obrigado a todos que chegaram até aqui. Comentem, debatam, xinguem o Dumars, façam o que quiser aí embaixo, espaço é de vocês. Sei que falei muita coisa que vocês irão discordar, peço que aguardem o outro post, com a análise imparcial. Abraços.*

3 comentários:

  1. Se bobear ele vai acabar dando um rio de dinheiro pro Calderon renovar kkk
    Oremos pra que essa loucura de pegar o KCP dê certo.

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  2. Irmão , nossos posts são muito parecidos ! Acho que Dumars a príncipio não trará armadores , ficando com Knight , KCP , Bynum ,Stuckey(o único que pode sair) English . Resta saber que pelo menos em Draft , Dumars vem acertando , vamos torcer ! Abraços

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